sábado, 14 de agosto de 2010

SÉRIE: 'Preciosidades Compartilháveis II' - Amáveis...!



Estar só como nunca.


Confiei/


Um delicado compartilhar.


Não quero ninguém, senão de passagem/


Não fique!


Deixe a noite para mim/



É muito cedo para envelhecer os sentidos.





CIÇA CASTRO

SÉRIE: 'Preciosidades Compartilháveis I' - Inestimáveis, ...!


O ciúme é aquilo que percebemos passar a acontecer em outro corpo;
uma saudade disto em nós/
Um Avesso.

Ciça Castro

sexta-feira, 6 de agosto de 2010


A natureza espanta a ciência:
nosso afastamento das forças fundamentais
e o ‘caso dos índios desconhecidos’

Que sutileza dos enquadramentos espaço-tempo terem reservado para este período do ‘novo’ século, ainda um espanto, herdeiro dos espantos do século XVI, frente a cenas cabíveis para os 1500 de então, não fossem os trajes e a tecnologia traírem as mesmas feições afectadas dos ‘descobridores’!

Mais que a satisfação da curiosidade científica ou do encontro com supostos elos perdidos da civilização, o espanto geral das comunidades globalizadas, dos aparatos de segurança e controle sanitário e populacional, a vigilância dos territórios perdidos nos confins límbicos da Amazônia... e, ainda, o espanto mesmo dos eco-ficcionados, ‘greem peaces’ de toda ordem e controle, como de graduações de seriedade.

Nenhum de nós, na verdade, escapou ileso a este encontro (ou, ‘quase encontro’, como ainda querem os índios, tentando esquecer a abertura que trouxe este ‘possível’ prenhe de riscos...).

Não conseguimos localizar, com precisão, como fomos relapsos o suficiente para deixarmos que se esgueirasse para a atualidade, em pleno século XXI, uma comunidade indígena inteira! Sem que tivéssemos notícias de sua existência ou extinção, traços de sua localização, lendas propagadas como as de uma ‘Ilha Desconhecida’: uma comunidade vivendo na floresta, de modo autônomo, auto-sustentável, preservados num ‘antes’ extemporâneo, em seus ritos, crenças, afazeres, guerras e paz, crescimento e preservação da tribo.
Ainda assim, invisíveis até agora. Onde localizar os efeitos de sua existência ou pistas de sua passagem na floresta?

Ao tentarmos examinar e analisar nosso espanto à luz dos fatos ‘descobertos’ seguimos, mesmo que sem perceber, os indícios que o corpo percebe neste jogo: é sempre pelos efeitos que podemos ter pistas da passagem de um fluxo sobre uma superfície, as marcas deixadas como pegadas que guiam a produção de clareiras à certos saberes. Mais intrigante é que, através da observação atenta da passagem deste encontro em nosso corpo, ficamos inertes diante da supremacia encobridora dos índios desta tribo: macroscópicos, molares, humanóides, bípedes visíveis a olho nu, deram-se à visão muito tempo depois que a Física e Astrofísica Modernas, através de suas experiências e aparatos tecnológicos incríveis, conquistassem visibilidades nanométricas ou astronômicas.

Como conceber que o mundocorpo nos alerta para a existência insuspeita de inúmeros desconhecidos, invisíveis, indizíveis, imprevisíveis corpos, mundos, acontecimentos através mesmo de nossos corpos, cheios de surpresas e ações inesperadas, prenhe de poder estético para criações diversas...

Como conceber um viver coletivo, autônomo e auto-sustentável, que exista em meio a um ecosistema sensível e continuamente ameaçado como estes confins da floresta, sem que haja rastros das produções e produtos, dos ‘restos’ e dejetos desta comunidade? Como ela perdura no tempo e na história, como são seus modos e fazeres? Demasiado animais para estabelecer fronteiras precisas com o humano? É por indiferenciação do mundocorpo que o homem se torna invisível e inacessível à sensibilidade humana no mundo?Indiferenciada porque parte da floresta? Parte da floresta, por isto por ela encoberta? O acontecimento reverberado neste encontro põe o corpo em estado de alerta, a experiência da velocidade absoluta vivida na viagem nômade: o tornar-se tribo invisível como os yanomamis na floresta – como já nos alertou Caetano – a Ilha Desconhecida de Saramago, produzida pelo desejo.

Desafio existencial do humano nesta mistura de heterogêneos. Exatamente: traços, rastros, efeitos, diagramas pontilhados, movimentos... efeitos da passagem...

O corpo é natureza. Quando nos separamos do mundo (ou natureza), arriscamos deixar escapar o exato movimento das forças: um acontecimento que contamina vários campos do conhecimento, abertura a outros possíveis. Para nós talvez ainda, invisíveis, indizíveis, insondáveis.

sábado, 3 de outubro de 2009






Não importa a artificialidade dos materiais...
Os afetos são verdadeiros.

(...) Mesmo sendo errados os amantes, seus amores serão bons!
(Chico Buarque)

quarta-feira, 24 de junho de 2009




Penso que os artistas não podem dar-se conta do que provocam na vida das pessoas às quais sua arte toca, senão no momento deste 'fazer-se passagem'... é por demais enlouquecedor suspeitar o poder do corpo...! Por isto, são sempre estranhos de si mesmos, cismados, alheios – desapego necessário à passagem, sua condição! Não podem dar-se conta, senão, voariam!

quarta-feira, 4 de março de 2009


Um Corpo só sustenta os valores que vive... e entre e sob e através e trans e processual e... e... e...















Escrever...
Gosto de pensar que, ao escrever, nem sempre sabemos bem o que estamos fazendo ou dizendo. Há sempre um texto que se escreve ali onde algo escrevemos... Pois há (é necessário que) uma certa inocência na escrita, principalmente naquela que se faz fora das regras formais do bem-dizer acadêmico. É, aliás, essa inocência que confere ao texto um certo frescor, uma certa alegria, um certo inacabamento necessário para que ele se sustente. Um incitamento. Uma potência...
Gosto desses textos que avançam sobre suas próprias incertezas, que fazem de seu inacabamento a possibilidade de continuarem. Eles são um modo de persistência... persistem em si mesmos, fazem-se lampejos, caminham intempestivos, arrastando tudo o que encontram pelo caminho, os portos, os sentidos, os nortes, prenhes de seu próprio excesso. Um excesso que é sua velocidade, sua parada repentina, sua alteração de ritmo. Pois tudo o que temos é isso, tempos, velocidades, afetos...
Gosto desses textos que não se dão facilmente à compreensão, mas que entretanto ali estão, abertos, disponíveis a um leitor com o qual se construírem...
Gosto desses textos nos quais tropeçamos, que nos fazem claudicar junto com eles, textos nos quais nos perdemos... ao mesmo tempo em que nos puxam, nos arrastam, nos impedem a parada, nos devolvem à deriva a cada vez que supomos ter conseguido uma ancoragem.

Quando leio, penso que não devo perguntar: "o que o autor quer dizer", pois estou já na imanência do dito, dos fluxos que arrastam as palavras, as frases, os sentidos. Estou na música, e se encontro uma paisagem, desejo que seja dessas que se desenham para rapidamente se dissolverem em outras paisagens. Esses são os textos com potência de me mover, de me pôr em movimento com eles...
Gosto desses textos que me convidam a inventar meus caminhos, textos que multiplicam meus próprios dizeres, minha própria escrita. É neles que encontro o que pensar, é com eles que meu corpo é forçado a pensar...
Valter Rodrigues - 10.03.2008

Vitória da Conquista, BA, Brazil